segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ferroada de Arraia


FERROADA DE ARRAIA

 
Na recente enchente de 2012, dois amigos foram até o lago do Mamaurú, maior lago de água doce do oeste do Pará, formado pela confluência do Curuçambá e Rio-branquinho, cenário de intensa biodiversidade, onde se desenvolvem inúmeras espécies, animais, vegetais, aves, répteis, anfíbios, etc. É uma pitoresca região de lago de águas escuras e bela paisagem, há aproximadamente 12 km da cidade de Óbidos, caracterizada também por apresentar boa piscosidade, onde as pessoas praticam pesca artesanal, e se deleitam com as delícias do peixe fresquinho pescado e assado na hora.

Lá chegaram por volta de 10h da manhã, quando o sol já ia alto e as águas escuras e frias, no degrau da escada da casa, convidavam para um mergulho refrescante. Cuidadosamente, um dos amigos desceu os degraus de acesso à casa, de onde a areia ao fundo era visível, por ser ainda raso para um bom mergulho. Um passo à frente, e, sentiu apenas a folhagem e o passar suave de um peixe entre seus dois pés, suficiente para subir rapidamente os degraus, e deparar com duas pequenas furadas em ambos os pés por onde corria o sangue ao chão. Fora ferrado de arraia e sentiu suas forças minguando em suas estruturas. Foi como se todas as dores do mundo canalizassem para aqueles dois pequenos furos nos pés, por onde fluía o sangue. Pensou na dor que uma mulher sente ao dar a luz a uma criança. Não tem escolha, ou você suporta ou o moleque vem à luz, ao ponto de quase lhe dar uma vertigem.
 
 
Sentia que a dor era só sua, pessoal, que não se pode dividir com ninguém, e somente a solidariedade  e o remédio dos mais experientes pode lhe abrandar. E o remédio imediato servido foi café com sal, remédio para dor, qualquer um, lavar o local com água e sabão, de vez em quando ir passando um pingo de mel de abelha, um excelente antibiótico para esse caso onde relaxar e aguardar a dor passar, é o mais sensato a se fazer, pois você terá que suportar a dor de carregar o peso do mundo sozinho e apenas poucas pessoas para ver, sem poder a dor dividir e assim ajudar.

No fundo, a vida é mesmo assim, sentimos dor e alegria, mas somente quem sente tem a exata noção do quão prazeroso ou doloroso é. É apenas mais um sentimento, e sentimos sozinhos, embora jamais estamos sozinhos!

Paulo Pehaga.


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