quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A CIENCIA DO BODE

A CIÊNCIA DO BODE
Alfredo Nunes Pereira, popularmente conhecido como “bode”, é um pequeno empreendedor do assentamento Cruzeirão do município de Óbidos. Como ele mesmo fala, jamais sentou em banco de escola, e, o pouco que sabe aprendeu no trabalho, na labuta do dia-dia com seu pai. Ele relata que em sua propriedade, com pouco mais de cem hectares, há em torno de dois hectares de um pequeno castanhal e alguns pés de cumarú, nos quais ele realiza o manejo. Ele conta que em safras boas, somente ele colhe em média 10 hectolitros de castanha, sendo que cada hectolitro corresponde a cinco latas de 18 litros “de cabeça”, e cada hecto ele comercializa para a indústria da cidade a R$ 50,00. Com esse dinheiro ele comprou os primeiros tijolos, e com a colheita do ano seguinte, comprou os primeiros sacos de cimento para a construção de sua humilde casa. Da colheita do cumarú, comercializou a R$ 18,00 o quilo verde e R$ 24,00 o quilo seco. Segundo ele teve dia de quebrar 10 quilos de cumarú, conseguindo uma renda diária de R$ 180,00. Com a colheita e comercialização de toda a safra foi possível comprar um búfalo. Com entusiasmo, fala que jamais viu animal com tamanha força, e que certa vez havia uma Toyota atolada, e a uma simples ordem sua o búfalo puxou a Toyota do atoleiro. Falando de seus sonhos, conta ele que sua vontade era ser mecânico, que fez testes no Senai e foi aprovado em todos, entretanto, como não sabia ler ficou reprovado, e jamais conseguiu tornar-se mecânico. A partir daquele dia, jurou a si mesmo que isso não se repetiria com seus filhos: Sete homens e três mulheres, por sinal, muito bonitas e educadas. Com muito esforço, vem conseguindo criar 11 vacas e um reprodutor, e, como não podia ser diferente, sofre com o assédio de pecuaristas para tentar comprar sua propriedade, mas, diz ele que não cederá pois gosta mesmo de seu pequeno castanhal, seus pés de cumarú nativos que a natureza lhe deu, e que nenhum dinheiro há de pagar. Em sua pequena casa-de-campo há vários cachorros, seus cães-de-guarda que o auxiliam na lida do dia-dia, nas caçadas de jabuti. Entre eles há as fêmeas as quais, ele “tratou” com carne de jacaré antes de entrarem em idade reprodutiva, pois segundo ele, faz com que as mesmas não ovulem, o que impede de procriarem. Há cio, porém. Elas não engravidam. O Sr. Alfredo, é uma pessoa rara, jamais sentou em um banco de escola, mas conhece tudo da vida! Talvez possua um moderno sistema de manejo em sua propriedade, baseado no conhecimento tradicional da tão propalada sustentabilidade, onde convive harmonicamente, com centenária floresta, tirando o sustento, preservando as espécies e as nascentes, pois entende que há mais valor na floresta em pé, que para ele é sua indústria, onde ele tem que ir sistematicamente colher a matéria-prima! Paulo Pehagá.

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